domingo, 5 de junho de 2016

Reflexão do Evangelho (Lc 7,11-17)

 Jesus liberta das garras da morte

O relato do episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim encontra-se somente no Evangelho de Lucas. Tem estreita ligação com o episódio de Elias: ambos tratam da morte do filho único, cuja mãe é viúva. Os filhos únicos representam a garantia de futuro para as famílias. A situação de morte não pode deixar acomodadas as pessoas que servem a Deus.

Nos Evangelhos, os sinais de cura e libertação, em sua maior parte, são realizados por Jesus em atendimento à súplica dos necessitados. No caso da viúva de Naim, porém, é Jesus mesmo que toma a iniciativa de ir ao seu encontro. “Seus discípulos e numerosa multidão caminhavam com ele.”

Naim é uma cidade amuralhada. Do seu interior para a porta vem uma procissão, acompanhando o enterro do filho único de uma viúva. “Grande multidão da cidade estava com ela.” Duas procissões em sentido contrário encontram-se na “porta da cidade”. Jesus vê a situação em que se encontra aquela mãe e fica comovido, isto é, “ele é movido em suas entranhas”, conforme o verbo grego (splanchnizomai). É o mesmo sentimento de amor e compaixão que leva o samaritano a socorrer a pessoa espancada e abandonada à beira do caminho (10,33); é também o mesmo sentimento que leva o pai do filho pródigo a ir correndo ao seu encontro, acolhê-lo nos braços e beijá-lo (15,20).

Jesus, movido pela compaixão, dirige-se à mulher com palavras de consolação e esperança: “Não chores”. Não são palavras de meras condolências. Ele se aproxima, toca no esquife e pede que o jovem se levante. Percebe-se, aqui também, como na narrativa de Elias, alguns verbos-chave reveladores da metodologia que proporciona a transformação de uma realidade de morte.

As pessoas que testemunham o fato glorificam a Deus, reconhecem Jesus como profeta e exclamam: “Deus visitou o seu povo”. É o eco do cântico de Zacarias, que bendiz a Deus “porque visitou e redimiu o seu povo e suscitou-nos uma força de salvação” (1,68s). Não é por acaso que Lucas situa o féretro vindo da cidade, lugar onde o poder se articula e se organiza. É como um seio que, ao invés de gerar a vida, provoca a morte. Jesus, força de salvação, vem com outro projeto que faz parar essa procissão de gente sem vitalidade. Junto com a vida, também restitui ao jovem a palavra. O povo, assim, é chamado a resgatar o direito à palavra e à vida e tornar-se protagonista de uma nova sociedade.

Celso Loraschi
Fonte: Revista Vida Pastoral


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