domingo, 28 de junho de 2015

Reflexão do Evangelho - Mt 16,13-19

As portas do inferno não vencerão

No evangelho de hoje, Jesus faz duas perguntas aos discípulos. Na primeira ele quer saber o que as pessoas em geral estão dizendo a respeito dele e, na segunda, o que os discípulos pensam sobre ele.
Com essas perguntas, parece que Jesus está fazendo uma pesquisa de opinião, para ver se a mensagem dele está sendo entendida pelo público. Ele está ocupado em construir, na consciência coletiva, a identidade dele, ou seja, quer estabelecer exata compreensão a respeito do Messias e, além disso, do tipo de Messias que ele é. Jesus faz essas perguntas aos discípulos porque sabe que da correta assimilação da identidade dele depende a correta compreensão de sua mensagem. Se alguém entende de forma errada quem é Jesus, compreenderá erroneamente a sua mensagem e terá uma práxis totalmente diferente da que ele espera.

Nas respostas dos discípulos à primeira pergunta, são explicitadas as diversas esperanças messiânicas de Israel.
Pedro toma a iniciativa de responder à pergunta feita aos discípulos sobre a identidade de Jesus. Mas é a comunidade dos discípulos sobre a identidade de Jesus. Mas é a comunidade dos discípulos, representada por Pedro, quem diz corretamente que é Jesus e qual é a sua missão. A resposta da comunidade representada por Pedro é uma profissão de fé no "Cristo, Filho do Deus vivo". Essa profissão de fé não é fruto da lógica e do esforço humano, mas é revelação divina, pois quem o revela  à comunidade é o próprio Pai, que está no céu. Foi a abertura da comunidade à revelação divina que possibilitou reconhecer e confessar  a fé no Cristo. E é sobre a fé confessada no Cristo, Filho do Deus vivo, que a Igreja é edificada. A expressão  "esta pedra" refere-se á confissão de fé e é um trocadilho com a palavra  "Pedro", por cujos lábios ela é pronunciada. O fundamento da Igreja é Jesus, pedra angular (Mt 21,42), confessado como Messias/Cristo pela comunidade de seus seguidores (são João Crisóstomo, Homilia XXI, 1).

Porque a comunidade dos seguidores confessou a verdadeira identidade de Jesus como Messias/Cristo, pedra angular ou fundamento, ela recebeu  "as chaves do Reino" (e não da Igreja).  O termo "chaves" significa ter acesso e nesse caso, remete a Is 22,22. Então, é a tarefa da Igreja cuidar da obra divina não como um proprietário, pois o Reino é de Deus, mas como um mordomo ou despenseiro que cuida da cada de seu verdadeiro senhor, ao qual prestará contas de seu serviço. E cuidar do reino significa fazer que ele cresça neste mundo.

Então a principal tarefa da comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja,é proporcionar o avanço do Reino dos Céus (ou de Deus). Esse avanço significa uma ofensiva a tudo que se constitui em antirreino (representado pelo termo "inferno"). "As portas", naquela época  como hoje, significavam o poder de defesa. Uma cidade (murada) com portas resistentes tinha grande poder de defesa numa batalha. "As portas do inferno não resistirão" significa que a comunidade dos discípulos de Jesus faz o Reino avançar contra o antirreino (o inferno), e por mais fortes que sejam os poderes de defesa (as portas) do inferno, eles não conseguirão resistir por muito tempo ao ataque da Igreja, a qual por fim verá o Reino vencer e ser instaurado plenamente. As portas do antirreino cairão ao final do ataque feito pela igreja.

Em vista do avanço do Reino, uma das tarefas da Igreja é "ligar ou desligar", mas isso não diz respeito a uma autoridade soberana do líder da Igreja. O sentido de "ligar ou desligar" refere-se ao âmbito da comunhão entre o fiel e a comunidade, ou melhor, ao sacramento da reconciliação. É  precisamente no âmbito do ministério da reconciliação que a Igreja exerce a tarefa de excluir oficialmente um membro  da comunhão plena ou de readmiti-lo (reconciliá-lo), uma vez cumprida certa condições. Desse modo, "ligar ou deligar" significa fundamentalmente a faculdade de perdoar os pecados, reconciliando o pecador com Deus, mediante a visibilidade do sacramento, impondo-lhes condições e obrigações que sejam o sinal da verdadeira conversão.




Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
(Graduada em Filosofia pela Universidade
Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade
Jesuíta de Filosia e Teologia (Faje - BH), onde
também cursou mestrado e doutorado em Teologia
Bíblica e lecionou por aluns anos.
Atualmente leciona na Faculdade Católica de Fortaleza.
É autora do livro: "Eis que faço nova todas as coisas" -
teologia apocalíptica - Paulinas)

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