segunda-feira, 13 de abril de 2015

Páscoa e Misericórdia

Páscoa é a ressurreição de Jesus Cristo, que venceu a morte. Páscoa é a passagem do povo de Israel do cativeiro no Egito para a liberdade. Livros e mais livros foram e ainda serão escritos sobre esta que é a principal celebração da cristandade. Entretanto, gostaria de refletir brevemente sobre a Páscoa como o grande sinal da misericórdia de Deus para com a humanidade. Um Deus que se manifesta como homem por intermédio de seu filho, Jesus Cristo, na unidade com o Espirito Santo.

Os evangelistas retratam diversos momentos em que Jesus Cristo revela a misericórdia de Deus. Misericórdia muitas vezes incompreensível para nós que vivemos em um tempo tão violento e tão marcado por relações humanas pouco profundas, e impregnadas do conceito da utilidade do ouro, e não o amor. Um tempo em que a parábola do “Filho Pródigo” (Lc 15,11-32) parece tão estranha.

A verdade é que a lógica de Cristo nos questiona! Vejamos, então, a relação de Jesus com Judas Iscariotes, retratada no capítulo 13 do evangelista João. Na última ceia, Jesus reconhece que chegou sua hora de passar deste mundo para o Pai. O evangelista afirma que “durante a ceia, o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de trair Jesus” (v.2). No texto fica claro que Cristo sabe da traição e conhece o traidor. Mesmo assim, Jesus lava os pés dos apóstolos, inclusive os de Judas, e partilha sua última ceia com todos eles.

Por fim, “comovido!”, Jesus revela a traição, sem “crucificar” o traidor. Pelo contrário, o serve. “É aquele a quem vou dar o pedaço de pão que estou umedecendo no molho” (v. 26). E, mais à frente Jesus diz para Judas: “O que você pretende fazer, faça logo”. (v.27).

De fato, a pedagogia de Jesus é revolucionária. Outra pessoa teria denunciado o traidor e, talvez, até usado de métodos coercitivos e violentos para evitar que Judas concluísse seu plano. Porém Jesus prefere mostrar a Judas a proposta de seu Reino de amor e de serviço. Revela também sua tristeza pela traição, dando-lhe oportunidade para que ele reconheça o erro que irá cometer. Jean Yves Leloup, em seu livro “Além da luz e da sombra: sobre o viver, o morrer e o ser” (Editora Vozes), faz uma interessante reflexão sobre a justiça que precede o perdão, destacando a importância de que primeiro se expresse o sofrimento causado pela ofensa, para que depois seja oferecido o perdão; perdão este que tem poder curativo.

Infelizmente, Judas Iscariotes parece não ter entendido nada da proposta de Jesus. Preferiu dar sequencia a seu plano, que culminou com a crucificação. Entretanto, a morte de Jesus não foi uma derrota. Sua ressurreição tornou-se nossa Páscoa e a possibilidade de, reconhecendo os nossos erros e pedindo perdão, bem como perdoando ao próximo, sermos acolhidos por este Deus misericordioso.
Judas agiu como muitos de nós: não foi além da crucificação de Cristo. E, com isso, não contemplou a sua ressurreição.

Jefferson Silveira
Fonte: Revista Rogate, Seção Opinião 257 – Abril de 2007

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