segunda-feira, 6 de abril de 2015

Cristo, Nossa Páscoa

A sexta-feira Santa foi uma experiência traumática para os apóstolos. Com a morte de seu mestre na Cruz, morriam também suas esperanças de uma vida diferente, melhor. Não só abandonaram aquele a quem haviam seguido de perto por três anos, como também nos últimos momentos da vida dele deixaram-se levar pela mentira, pela covardia e, mesmo, pela traição. As perspectivas, agora, não eram nada alentadoras: provavelmente voltariam para as suas ocupações anteriores, quando muito guardando as lembranças de um tempo que foi bom enquanto durou.

Poucos dias depois, surpreendentemente, estavam eles reunidos em comunidade. Não pareciam os mesmos; o clima dominante era de alegria e otimismo. Ao falarem de seu Mestre, não se referiam a um morto, mas a alguém que estava vivo. Mostravam-se até capazes de morrer por ele e dar a vida pela propagação de seu Evangelho.

O que aconteceu entre o momento da crucificação no Calvário e o nascimento dessa vida em comunidade? Como compreender tão rápida e profunda transformação? O que modificou o ânimo desses apóstolos para que passassem do desanimo total no entusiasmo contagiante?

Qualquer um dos apóstolos poderia responder com as palavras que Paulo escreveria mais tarde: “Cristo morreu por nossos pecados..., foi sepultado... ressuscitou ao terceiro dia...” (1Cor 15,3-4). Não há, nesse texto, a preocupação por detalhes, menos ainda o gosto pelo espetacular. Há um anúncio que passará a ser o centro de suas pregações: Cristo ressuscitou!.

Com a ressurreição de Cristo e, posteriormente, com a vinda do Espirito Santo, os apóstolos compreenderam as Escrituras. Nelas descobriram o que vários séculos antes havia sido profetizado; perceberam, também, que estavam tendo a graça e o privilégio de viver um momento especial. Não lhes era fácil, mesmo assim, acreditar em Jesus Cristo. Acreditar significava deixar-se envolver por sua pessoa e sua proposta. Mas significava também viver de sua presença-ausência. 

A história dos discípulos de Emaús era, nesse ponto, a história de cada um deles. Identificavam-se com aqueles dois discípulos que, na tarde do domingo da ressurreição, ao voltarem para a sua aldeia, percorreram um longo caminho com o Ressuscitado sem, porém, perceberem que era ele. Quando ele partiu o pão é que o reconheceram; até então seus olhos estavam demasiadamente pesados e seu coração preso ás próprias preocupações (cf. Lc 24, 13-35).

Mais tarde, também os primeiros cristãos fizeram idêntica experiência: descobriram que se pode conviver com Jesus, lado a lado, sem tomar consciência de sua presença. E, quando essa presença é notada, é possível que, repentinamente, ele “desapareça”, desejando ser procurado e encontrado em seus irmãos e irmãs.

As primeiras comunidades cristãs acreditaram que a mensagem de Cristo era verdadeira porque o Ressuscitado havia vencido a morte. Sabiam que se isso não tivesse acontecido as gerações posteriores teriam apenas uma série de pensamentos e gestos para recordar -  pensamentos e gestos que poderiam prender a atenção de curiosos e estudiosos, mas que seriam incapazes de levar as pessoas a assumirem sua causa.

“Se ressuscitares como Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Cristo é nossa páscoa; é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele está no meio de nós, acolhe os que aceitam ser transformados por ele e nos convida a proclamar a todos: “O Senhor ressuscitou!” (Lc 24,34).

Dom Murilo S.R. Krieger, SCJ
Fonte : Revista mensageiro vol 114- abril 2008

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